Arquivo mensal: março 2014

O que você tem a ver com a violência?

cabeça homem

A divulgação da pesquisa do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), realizada com 3.810 pessoas, sendo 66.5% de público feminino, foi a notícia e o debate predominante da semana, ao revelar que a maioria da população brasileira acredita que mulheres que expõem seus corpos merecem ser atacadas e que o seu comportamento “inapropriado” justificaria estupros.

Um resultado realmente preocupante, mas que julgo, sinceramente, esperado, dentro dos acontecimentos de violência que vivemos diariamente. Não, não estou falando de roubos, sequestros e assassinatos que vemos na mídia, na vizinhança próxima e mesmo na família de alguns que estão lendo este texto agora. Estou falando da violência praticada em forma de egoísmo, falta de respeito, de educação que presenciamos cotidianamente em filas de mercado, de banco, nas vagas de estacionamentos, em elevadores, transporte público, trânsito… e que parece crescer de forma endêmica. Uma massa de cidadãos “pacatos”, comuns, com ou sem “berço”, que parecem se transformar em selvagens diante de seus interesses e necessidades de chegar primeiro, de ter primeiro, de ser o primeiro.

Em situações como estas me lembro da Educação Moral e Cívica, instituída como disciplina obrigatória nas escolas, a partir da Lei 869 de 12 de setembro de 1969 e que deixou de ser obrigatória após o fim, tardio, da ditadura. Na minha inocente adolescência sempre questionei que raios a tal EMC teria de valor para a vida do estudante, além de ensinar a respeitar os símbolos pátrios, até que agora me deparo com a falta de ética e moral do ser humano com tudo, a começar por ele próprio, e percebo o que perdemos ao longo da história, com a perda desta disciplina.

Sem entrar nos méritos de intenções governamentais, a matéria tinha entre suas finalidades, o fortalecimento da unidade nacional e do sentimento de solidariedade humana, o aprimoramento do caráter, com apoio na moral, na dedicação à família e à comunidade e o preparo do cidadão para o exercício das atividades cívicas com fundamento na moral, no patriotismo e na ação construtiva, visando o bem comum.

É verdade que a escola não é e não deve ser a única responsável pela formação do caráter do ser humano, mas sim a sua base familiar. Mas o que esperar de uma base familiar que não tem e, portanto, não reconhece e não replica valores para os seus?

Ainda que a disciplina não exista mais, teoricamente ela deve fazer parte de um conjunto de disciplinas que integrem a grade escolar como um todo, com questões morais e éticas fundamentais para o exercício da cidadania.

Desde 2011, tramita no Congresso Nacional um projeto de lei para incluir a disciplina de Ética e Cidadania nos currículos escolares. Será este um caminho para a retomada destes valores? Será este o recurso necessário para que o ser humano se perceba como parte vital deste ciclo de violência que cresce e se volta contra ele próprio? O que será necessário para o homem se olhar no espelho e enxergar que ele é, em grande parte, o protagonista da violência que tanto o aflige?

Mostre-me o que compartilhas e te direi quem és

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Gosto de fazer analogias sobre hábitos, comportamentos e movimentos em massa em diferentes épocas, na base do AMS/DMS – Antes das Mídias Sociais e Depois das Mídias Sociais, analisando os desdobramentos de situações que antes passariam quase no anonimato e agora se transformam em grandes acontecimentos.

O fato é que a velha frase “minha vida é um livro aberto” que antes um indivíduo usava para dizer que não tinha segredos, ganha dimensões bem diferentes se transformada em “minha vida é um facebook aberto”, por exemplo.

E não precisa de muito. Ainda que a gente não escreva uma linha opinativa a respeito de algo, o simples curtir e compartilhar pode dizer muito mais a nosso respeito do que podemos imaginar. Músicas, fotos, notícias, piadas… revelam gostos, simpatias, personalidade e, algumas vezes, até caráter, que tem sido tomado como base de opiniões e decisões em diversos aspectos, incluindo profissionais, como a contratação de funcionários por algumas empresas.

E pergunto: Você já parou para pensar no que está projetando e na responsabilidade que possui ao entrar nas diversas ondas que surgem todos os dias na web? Até que ponto procura se inteirar sobre denúncias antes de compartilhá-las? Até que ponto conhece àquela ação política super polêmica que “todos” julgam como boa ou ruim? O quanto julga inocente aquela piada sobre acidentes, tragédias ou gafes cometidas por personalidades ou mesmo pessoas comuns que se transformam em memes?  Até que ponto a sua opinião é realmente a sua opinião?

Pois é, você é apenas mais um, por certo, em meio a milhões de pessoas que pode transformar uma mentira em verdade, destruir uma carreira, separar uma família. Sim, você tem o poder e a responsabilidade sobre o todo.

Acho que todos precisamos de um exercício analítico sobre o nosso comportamento nas redes sociais e que pode ser resumido em alguns pontos básicos:

– Não tome para si a “certeza” de um coletivo antes de estudar a respeito;

– Não compartilhe algo importante e decisivo para a vida de outros, apenas porque uma personalidade ou aquele seu amigo muito inteligente o fez;

– Analise a amplitude da palavra sarcasmo e bullying nos mais simples posts;

– Pense sobre quanto os dois lados de uma verdade podem ser convincentes sob diferentes aspectos e formas de persuasão;

– Pense.

Para concluir, cito uma frase que ouvi certa vez, muito antes do advento das redes sociais, que julgo agora ter um poder e uma razão ainda maior: “Antes de dizer algo sobre alguém, pense se este algo irá acrescentar algum fato positivo à vida desta pessoa. Caso contrário, melhor ficar calado”.

Feliz de quem vive a sua essência

a menina q roubava livros 2

Há pouco tempo fiz uma breve enquete pelas redes sociais, pedindo para que as pessoas se definissem por apenas um verbo. A pergunta era para um breve laboratório com a finalidade de captar o quanto este verbo realmente refletia a essência de cada um, ainda que eu não conhecesse várias destas pessoas pessoalmente, mas acompanhasse suas atividades pessoais e profissionais na própria rede.  E não foi com surpresa que identifiquei na quase totalidade dos verbos o “conjunto da obra” de cada uma.

A pergunta que agora jogo para todos aqueles que responderam e os que agora estão diante deste texto é o quanto cada um conduz a sua vida, de forma objetiva e resolutiva, com base em sua essência?

Respeitar e direcionar nossas atividades cotidianas e, especialmente, as grandes metas da nossa jornada pela nossa natureza mais pura, certamente nos conduzem para uma vida mais feliz. 

Ilustro aqui a importância da essência com a personagem de um livro que se transformou em filme, A menina que roubava livros – de Markus Zusak. Liesel, uma garotinha, filha de mãe comunista perseguida durante a Segunda Guerra Mundial, passa por inúmeras e trágicas perdas em sua mais tenra idade. Vive o medo e o desamparo, mas se mantém resiliente, desabrocha, sobrevive e finalmente prospera como ser humano através da descoberta da leitura e, posteriormente, da escrita.

É nos livros que Liesel descobre o mundo e se descobre e são eles a sua grande forma de expressão e sobrevivência em meio a tantas amarguras. Eles a transformam e ela então conduz harmonia e vida aos que estão ao seu redor.

A mensagem final que fica em meio a um cenário injusto e desolador da Guerra que tanto sabemos pela vida real e pelas várias obras que a retratam é que a personagem é salva dos infortúnios e vive intensamente graças a sua essência, que se torna maior que ela.

Uma lição clara de que não devemos sucumbir às desilusões e sim nos agarrar ao que nos move para termos uma existência plena.

A minha razão de ser é a comunicação, base da vida de todos nós, mas que em mim aflora como o ar que respiro e por isso uma das passagens deste mesmo filme que mais me marcou é a que diz que  “palavras são vida”. Isso me resume e conduz  meus relacionamentos pessoais e profissionais. E você, o quanto tem sido conduzido ou conduz pela sua essência?

Para quem não viu o filme, aqui vai o link do trailer – http://www.ameninaqueroubavalivros.com.br/video-1.html