A divulgação da pesquisa do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), realizada com 3.810 pessoas, sendo 66.5% de público feminino, foi a notícia e o debate predominante da semana, ao revelar que a maioria da população brasileira acredita que mulheres que expõem seus corpos merecem ser atacadas e que o seu comportamento “inapropriado” justificaria estupros.
Um resultado realmente preocupante, mas que julgo, sinceramente, esperado, dentro dos acontecimentos de violência que vivemos diariamente. Não, não estou falando de roubos, sequestros e assassinatos que vemos na mídia, na vizinhança próxima e mesmo na família de alguns que estão lendo este texto agora. Estou falando da violência praticada em forma de egoísmo, falta de respeito, de educação que presenciamos cotidianamente em filas de mercado, de banco, nas vagas de estacionamentos, em elevadores, transporte público, trânsito… e que parece crescer de forma endêmica. Uma massa de cidadãos “pacatos”, comuns, com ou sem “berço”, que parecem se transformar em selvagens diante de seus interesses e necessidades de chegar primeiro, de ter primeiro, de ser o primeiro.
Em situações como estas me lembro da Educação Moral e Cívica, instituída como disciplina obrigatória nas escolas, a partir da Lei 869 de 12 de setembro de 1969 e que deixou de ser obrigatória após o fim, tardio, da ditadura. Na minha inocente adolescência sempre questionei que raios a tal EMC teria de valor para a vida do estudante, além de ensinar a respeitar os símbolos pátrios, até que agora me deparo com a falta de ética e moral do ser humano com tudo, a começar por ele próprio, e percebo o que perdemos ao longo da história, com a perda desta disciplina.
Sem entrar nos méritos de intenções governamentais, a matéria tinha entre suas finalidades, o fortalecimento da unidade nacional e do sentimento de solidariedade humana, o aprimoramento do caráter, com apoio na moral, na dedicação à família e à comunidade e o preparo do cidadão para o exercício das atividades cívicas com fundamento na moral, no patriotismo e na ação construtiva, visando o bem comum.
É verdade que a escola não é e não deve ser a única responsável pela formação do caráter do ser humano, mas sim a sua base familiar. Mas o que esperar de uma base familiar que não tem e, portanto, não reconhece e não replica valores para os seus?
Ainda que a disciplina não exista mais, teoricamente ela deve fazer parte de um conjunto de disciplinas que integrem a grade escolar como um todo, com questões morais e éticas fundamentais para o exercício da cidadania.
Desde 2011, tramita no Congresso Nacional um projeto de lei para incluir a disciplina de Ética e Cidadania nos currículos escolares. Será este um caminho para a retomada destes valores? Será este o recurso necessário para que o ser humano se perceba como parte vital deste ciclo de violência que cresce e se volta contra ele próprio? O que será necessário para o homem se olhar no espelho e enxergar que ele é, em grande parte, o protagonista da violência que tanto o aflige?