Embora a motivação para escrever este texto tenha surgido dos meus filhos, foi no que vivi com meus pais que ele criou corpo. Sim, porque foi na ânsia de buscar respostas sobre o que devo ser e do que devo dar aos meus pequenos para que eles sejam crianças felizes e se tornem adultos independentes e saudáveis sob todos os pontos de vista, que encontrei muitas das respostas no que recebi dos meus pais. Afinal, foi graças a eles que o muito do pouco que tenho hoje foi possível e que um pouco mais posso dar aos meus filhos, ainda que seja muito menos do que eu gostaria de dar.
Convivendo com inúmeros exemplos de pessoas ao meu redor com muito mais posses e melhores condições de investir em atividades para o melhor desenvolvimento de seus filhos, por mais de uma vez me peguei questionando se não deveria me sacrificar mais, trabalhar mais, para ter mais e dar a eles muito mais: mais cursos, mais esportes, mais… E nesse questionamento quase sempre me volto ao passado de origem humilde dos meus pais, da minha escola pública, do dinheiro contado, da mesa magra, dos presentes magros, das roupas simples e o quanto a falta de melhor estrutura financeira interferiu na minha formação: nada.
Ah sim, se as condições fossem outras eu poderia ter estudado em melhores escolas, aprendido ainda cedo outras línguas, tido outras oportunidades de trabalho, #soquenão seria realizada se eles tivessem me privado dos melhores recursos para o meu desenvolvimento no momento mais essencial para a minha formação e que se constituíam “apenas” em amor, segurança, harmonia, respeito, atenção e, essencialmente, presença, boa presença.
Voltando para os questionamentos sobre os anseios e necessidades dos meus filhos e de todas as crianças do mundo, chego na conclusão de que o melhor investimento que podemos oferecer para elas e que é o principal responsável pelos rumos que elas podem dar aos seus próprios caminhos, é a melhor base moral e emocional. Base esta que não se delega às babas, aos professores, não se transfere ao ensino de outras línguas ou à prática de qualquer esporte. Mais do que pedir brinquedos e passeios, nossos filhos claramente nos pedem amor. E revelam-se mais felizes pelo intangível do que pelo palpável, a não ser que este palpável seja um abraço, um beijo, um carinho pessoal, e não algo apenas material – que assim como a droga, logo tem seu efeito esvaziado.
Assim, antes de visualizarmos o sucesso de nossas crianças com base apenas no que podem vir a ter em forma de profissões bem sucedidas e bens acumulados na vida adulta, devemos pensa-las como adultos verdadeiramente plenos.
Este é o melhor legado, a melhor herança a dar para elas e que lhes darão a melhor base para o sucesso na “carreira” que mais importa, a carreira da vida.