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Tolerância zero, evolução idem

globo mãos

Antes de começar a escrever este texto me fiz uma pergunta que repasso adiante: Você se considera uma pessoa tolerante? Bom, antes de responder, vamos às definições sobre a palavra. Tolerância (do latim tolerare – suportar, sustentar) indica a capacidade de aceitar o contrário, o diferente e dentro desta definição entra não apenas raça, religião, política ou preferências sexuais, que são questões mais frequentemente debatidas. Aliás, o debate deveria ser o melhor termo para o estabelecimento da tolerância.

Embora seja óbvio dizer que a intolerância tenha tradução oposta, nunca é demais pontuar que ela se caracteriza pela inabilidade não apenas de reconhecer as diferenças, mas essencialmente de respeitá-las, sendo frequentemente representada pela hostilidade, com base em uma emoção negativa. Isso significa que mais do que discordar, a intolerância se baseia no atacar.

Vemos e vivemos a intolerância diariamente, em diversas situações cotidianas, mas é diante dos acontecimentos midiáticos e das redes sociais que enxergamos mais claramente a sua dimensão na humanidade: guerras, homofobia, preconceitos diversos, bullying de todos os tipos… com o feio, com o pobre, com o gordo, e com o oposto também, com o belo, com o magro, com o rico.

Uma pena, com certeza, já que ao praticarmos a intolerância com o próximo perde ele e perdemos nós. E então quando ela se incorpora num coletivo, compromete também a evolução e o desenvolvimento de toda a sociedade, da humanidade.

A questão em torno da tolerância é tão importante, embora pouco valorizada pelos indivíduos, que a ONU (Organização das Nações Unidas) até instituiu o Dia Internacional da Tolerância, celebrado em 16 de Novembro, visando combater a não aceitação da diversidade cultural.

O problema é que muitos entendem que tolerar é abrir mão de suas convicções, quando não o é. E aqui nem vamos entrar no mérito de certo ou errado, porque nem sempre é o bem e o mal, o certo e o errado que estão em jogo, mas apenas visões opostas. E mesmo em situações socialmente estabelecidas como incorretas, o que faz de nós melhor do que o “bandido” é a forma como o punimos. Maria Madalena apedrejada por “puros” que o diga.

Enfim, se quisermos viver em harmonia com nós mesmos, precisamos entender que precisamos estar em harmonia com o todo, praticando a habilidade do diálogo e da compreensão de que a vivência, as oportunidades e os conhecimentos do outro podem não ser os mesmos que os nossos, interferindo de forma importante sobre as diferentes visões.

Afinal, é preciso sol e chuva para ser formar a diversidade de cores de um arco-íris, embora enxerguemos apenas sete; é preciso uma diversidade de flores para construir um belo jardim; uma variedade de frutas para um rico pomar. E o que seria de cada cor, cada flor, cada fruta, se apenas uma fosse a escolhida, a preferida?

De minha parte, respondendo a pergunta do inicio do texto, posso dizer que evoluo a cada dia e posso me considerar uma pessoa tolerante, embora a política insista em me testar ;-).

Ah! Antes de encerrar, se ainda não se convenceu a respeito do poder destruidor da intolerância, acredito que este curta feito na Bósnia possa te ajudar:

Mostre-me o que compartilhas e te direi quem és

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Gosto de fazer analogias sobre hábitos, comportamentos e movimentos em massa em diferentes épocas, na base do AMS/DMS – Antes das Mídias Sociais e Depois das Mídias Sociais, analisando os desdobramentos de situações que antes passariam quase no anonimato e agora se transformam em grandes acontecimentos.

O fato é que a velha frase “minha vida é um livro aberto” que antes um indivíduo usava para dizer que não tinha segredos, ganha dimensões bem diferentes se transformada em “minha vida é um facebook aberto”, por exemplo.

E não precisa de muito. Ainda que a gente não escreva uma linha opinativa a respeito de algo, o simples curtir e compartilhar pode dizer muito mais a nosso respeito do que podemos imaginar. Músicas, fotos, notícias, piadas… revelam gostos, simpatias, personalidade e, algumas vezes, até caráter, que tem sido tomado como base de opiniões e decisões em diversos aspectos, incluindo profissionais, como a contratação de funcionários por algumas empresas.

E pergunto: Você já parou para pensar no que está projetando e na responsabilidade que possui ao entrar nas diversas ondas que surgem todos os dias na web? Até que ponto procura se inteirar sobre denúncias antes de compartilhá-las? Até que ponto conhece àquela ação política super polêmica que “todos” julgam como boa ou ruim? O quanto julga inocente aquela piada sobre acidentes, tragédias ou gafes cometidas por personalidades ou mesmo pessoas comuns que se transformam em memes?  Até que ponto a sua opinião é realmente a sua opinião?

Pois é, você é apenas mais um, por certo, em meio a milhões de pessoas que pode transformar uma mentira em verdade, destruir uma carreira, separar uma família. Sim, você tem o poder e a responsabilidade sobre o todo.

Acho que todos precisamos de um exercício analítico sobre o nosso comportamento nas redes sociais e que pode ser resumido em alguns pontos básicos:

– Não tome para si a “certeza” de um coletivo antes de estudar a respeito;

– Não compartilhe algo importante e decisivo para a vida de outros, apenas porque uma personalidade ou aquele seu amigo muito inteligente o fez;

– Analise a amplitude da palavra sarcasmo e bullying nos mais simples posts;

– Pense sobre quanto os dois lados de uma verdade podem ser convincentes sob diferentes aspectos e formas de persuasão;

– Pense.

Para concluir, cito uma frase que ouvi certa vez, muito antes do advento das redes sociais, que julgo agora ter um poder e uma razão ainda maior: “Antes de dizer algo sobre alguém, pense se este algo irá acrescentar algum fato positivo à vida desta pessoa. Caso contrário, melhor ficar calado”.